Quando falamos dos problemas relacionados ao uso inadequado do medicamento mesmo nas doses consideradas terapêuticas, isto é, nas doses adequadas segundo os critérios científicos estudados para o tratamento de algum sintoma/sinal patológico, temos uma cultura entranhada na realidade brasileira do consumo sem critério, sem balizamento feito como dizem “nas coxas” de remédios para os mais diversos casos. O usuário/paciente já tendo um “depósito” em sua casa de remédios, não pensa duas vezes quando ele mesmo ou alguém próximo necessitar por critério próprio ou de terceiros do uso de medicamentos. Essas situações são corriqueiras e mesmo não tendo uma outra “farmácia” em casa, o indivíduo não perde tempo em abastecer-se na maioria das vezes de medicamentos sem nenhuma necessidade aparente. Aparece na farmácia as senhoras e senhoritas atrás de cremes e/ou géis vaginais. A desculpa utilizada é que ela sempre usa para se cuidar (sic). Sem saber do risco de alteração da flora e da citologia local. O estabelecimento farmacêutico surfa na onda de ser um supermercado de produtos farmacêuticos. Pegue e pague, está tudo bem. Outro problema que ajuda a piorar essa situação é a imensa propaganda incentivando o uso abusivo de medicamentos. Para emagrecer, manter a “pança” no formato adequado, medicamentos são utilizados de forma off label por pessoas que repassam a outros devido algum post de rede social. Fica difícil assim manter um uso adequado e racional de fármacos. Quando temos também prescrições ilegíveis, feitas fora das padronizações legais a dispensação de medicamentos fica impossível, porém mesmo com essas más condições ainda há quem dispense um medicamento sem mesmo entender a prescrição. Isso também leva ao uso irracional. O profissional farmacêutico não tem obrigação de acatar prescrições mal versadas e nem compactuar com práticas condutoras do uso inadequado de medicamentos mesmo que isso possa lhe causar a perda de emprego. Acontecendo algo que possa causar danos à saúde das pessoas envolvidas pela prática não ética realizada durante a dispensação de medicamentos, o profissional envolvido responde em várias esferas podendo até mesmo ser encarcerado além da perda de registro profissional. Temos o dever de lutar contra qualquer mecanismo que facilite o uso irracional de medicamentos tanto no sistema privado como público de saúde. Não existe "antibiótico de uso contínuo e nem de costume” pois cada quadro infeccioso pode apresentar outro tipo de bactéria levando a um fortalecimento do quadro patológico. O uso de inibidores da bomba de prótons (omeprazol e congêneres) como "simples anti-ácido estomacal" sem que seja por curto prazo e acompanhado de tratamento médico leva a graves problemas podendo agravar ainda mais o quadro ulceroso inicial. Quando pensar em usar medicamentos sempre procure por um especialista em remédios. O farmacêutico é esse profissional e está bem perto de sua casa atuando em estabelecimentos farmacêuticos. O medicamento não é brinquedo que possamos brincar com seu uso ou guloseimas para arrefecer nosso apetite. Prescrição não legível é perigo à saúde. Não aceite. Se não entender a receita fale no mesmo momento com quem a prescreveu. Se não for possível fale com seu farmacêutico. Ele poderá ajudá-lo na medida do possível.
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